Entre suspeitos de suposto esquema que beneficiou traficante estão 4 advogados que são filhos de magistrados
Por Ana Paula Chuva | Campo Grande News
Organograma divulgado pela Receita Federal mostra que esposa e três filhos do desembargador Divoncir Schreiner Maran também são investigados por suposto esquema que acabou favorecendo a fuga do narcotraficante Gerson Palermo, condenado a 126 anos de prisão.
O desembargador e outras 8 pessoas foram alvo da operação Tiradentes, deflagrada pela PF (Polícia Federal) com a Receita Federal na manhã desta quinta-feira (8). Quatro são da família de Divoncir, os três filhos Vânio Cezar Bonadiman Maran, Rafael Fernando Gehlen Maran e Divoncir Schreiner Maran Junior, todos advogados, e atual esposa Viviane Alves Gomes de Paula, servidora do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Outro magistrado é investigado pela PF e teria entrado no suposto esquema junto com o filho, sócio no escritório Maran e Ferreira Rodrigues Advogados Associados. O sócio em questão é o advogado Diogo Ferreira Rodrigues, filho do desembargador Marcos José de Brito Rodrigues.
O Campo Grande News entrou em contato com os suspeitos, mas ninguém atendeu às ligações.
Organograma mostra envolvido de filhos, esposa e até outro magistrado no esquema (Foto: Divulgação | Receita Federal)
Organograma mostra envolvido de filhos, esposa e até outro magistrado no esquema (Foto: Divulgação | Receita Federal)
Segundo a imagem sobre como funcionava o suposto esquema, há evidências de envolvimento direto dos três filhos de Divoncir. Segundo a apuração, o pai receberia propina para beneficiar Palermo, repassaria os valores aos filhos que acionariam um sócio para lavagem do dinheiro recebido do narcotraficante, com participação de um ex-funcionário Cristian Araújo, apontado como laranja.
Em família – A polícia também incluiu a assessora Gabriela Soares Moraes em busca e apreensão nesta quinta-feira, assim como os outros suspeitos. Ela estava lotada no gabinete de Divoncir até 2020, quando foi dispensada e logo em seguida passou a trabalhar para o desembargador Marcos Brito.
“Para exercer em comissão o cargo de Assessor de Desembargador, símbolo PJAS-1, junto ao Gabinete do Desembargador Marcos José de Brito Rodrigues”, conforme documento publicado em 24 de agosto de 2020.
Em nota, a Ordem dos Advogados, apenas relatou que além da ordem judicial contra o desembargador, também foram cumpridos mandados em escritórios de advogados inscritos na seccional.
“ Diante disso, a OAB/MS informa que, nos termos da Lei 8.906/1994, acompanha as diligências e que adotará as medidas legais de natureza disciplinar aplicáveis ao caso, respeitando sempre o direito à ampla defesa e contraditório”, pontua a nota.
Além dos mandados em Campo Grande, a Polícia Federal também cumpriu busca e apreensão em Bonito, onde Divoncir tem uma fazenda.
Operação – Divoncir é investigado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por conceder Habeas Corpus, que resultou na fuga do narcotraficante Gerson Palermo, condenado a 126 anos de prisão. Com isso, ele é suspeito por “transações suspeitas”, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao todo, hoje foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão em Campo Grande e Bonito, todos expedidos pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Um dos endereços onde equipe da PF esteve foi o gabinete do desembargador no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Os policiais ficaram no local por 3h30 e saíram com dois malotes.
Outro endereço “visitado”, foi o condomínio Le Charmaint no Bairro Cidade Jardim, onde também saíram com malotes. As buscas foram acompanhadas pela Comissão de Prerrogativas da OAB-MS. Não foi detalhado quantos mandados foram cumpridos na Capital e quantos em Bonito.
Por conta da investigação, o desembargador foi proibido de manter contato com servidores e também de entrar em todas as sedes do Judiciário, além de utilizar dos serviços direta ou indiretamente, sob pena de prisão preventiva.
O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, que não vai se manifestar.
Decisão – Em 21 de abril de 2020, ainda no início da pandemia do coronavírus e feriado de Tiradentes, Palermo foi enquadrado no grupo de risco para a covid e obteve prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico. A decisão aconteceu durante o plantão de Divoncir.
No habeas corpus, a defesa alegou que Palermo tinha mais de 60 anos, sofria de diabetes, hipertensão e por isso corria risco de contrair a covid-19 no cárcere.
No dia seguinte, 22 de abril, o desembargador Jonas Hass Silva Júnior, relator do processo, revogou a liminar e restabeleceu a prisão. Oito horas após o benefício do regime domiciliar, o chefão do tráfico rompeu a tornozeleira eletrônica e desapareceu.
Contudo, foram apontadas supressão de instância, ausência de cautela na análise de todos os aspectos envolvidos no deferimento do pedido e violação à resolução do CNJ.
Gerson Palermo é piloto de avião, acumula passagens pela polícia desde 1991 e é chefe do tráfico de cocaína. O crime mais ousado foi no ano 2000, quando sequestrou um Boeing da Vasp.
Até março de 2020, ele estava preso por condenação na operação All In, realizada pela PF. De acordo com a sentença da Justiça Federal, Palermo tem histórico de “façanhas criminais” e cogitou até uma “fuga de cinema” para o genro preso.
Aposentadoria – O desembargador está a dois meses de se aposentar porque vai completar 75 anos, idade limite para atuar no Tribuna de Justiça. A aposentadoria será em 7 de abril, um dia depois do seu aniversário.