Aproveitamento da vinhaça in natura na plantação de cana-de-açúcar
por: Finep
Uma tecnologia 100% nacional, que permite extrair biogás por meio de um processo de metanização da vinhaça, principal efluente em usinas de produção de etanol a partir da cana de açúcar, já está em funcionamento no País. Desenvolvido pela Methanum Engenharia Ambiental em parceria com a Adecoagro, em pesquisa iniciada em 2013, o projeto, contemplado para apoio da Financiadora no Programa Paiss Industrial, com R$ 4,87 milhões em recursos de subvenção econômica, foi testado com sucesso em escala-piloto e acabou por se mostrar totalmente viável em escala industrial. Desde julho de 2018, a planta comercial se encontra em operação na Usina Ivinhema da Adecoagro (MS), onde o biogás já é utilizado para o aquecimento de água nos processos da indústria.
Outro diferencial desta tecnologia é que a vinhaça concentrada, uma vez biodigerida, é tratada e utilizada como fertilizante organomineral nos campos de cultivo de cana-de-açúcar da Usina. Com isso, a indústria consegue aproveitar, deforma totalmente sustentável, esse efluente que, tradicionalmente, é aplicada in natura nas plantações, num processo conhecido como fertirrigação, que, apesar de eficaz para irrigar e adubar o solo, apresenta impacto ambientais negativos. Se aplicada pura no solo, a vinhaça começa a degradar e exala um forte cheiro, ao mesmo tempo em que atrai grande quantidade de insetos para as plantações. Outro problema é a sua infiltração no solo, com enorme risco de contaminação de água subterrâneas e cursos d’água. Além disso, sua acumulação no subsolo pode alimentar microrganismos que liberam na atmosfera o gás metano, além da liberação natural de óxido nitroso, ambos gases causadores, em alto grau, do efeito estufa.
Para se ter uma ideia da extensão do potencial de solução da tecnologia proposta à problemática atual, o Brasil produziu, na safra 2017-2018, cerca de 28 bilhões de litros de etanol da cana-de-açúcar. Para cada litro produzido, são gerados de 10 a 14 litros de vinhaça. Com a nova tecnologia, será possível reduzir a praticamente zero o impacto gerado por este resíduo ao meio ambiente, uma vez que o metano é produzido em ambiente controlado, sendo utilizado como fonte de energia renovável e fertilizante.
Pesquisa foi desenvolvida pela Methanum Engenharia Ambiental (MG), com R$ 4,87 milhões da Finep
Segundo o analista da Finep, Marcos Barros, o domínio dessa tecnologia possibilitará o incremento de receitas das usinas devido ao aproveitamento interno e possível comercialização da energia obtida a partir do biogás, ou de sua conversão em biometano combustível veicular. Também ajudará namelhoria da produtividade agrícola, pela aplicação do novo fertilizante organomineral,e na ampliação da participação das Usinas no RenovaBio, programa inovador do governo brasileiro que permite à indústria de biocombustível beneficiar-se de créditos por sua eficiência ambiental.
Inserida no mercado nacional desde 2010, a Methanum Engenharia Ambiental, de Minas Gerais, projeta e desenvolve equipamentos e sistemas para tratamento de diversos tipos de resíduos, de lixo urbano a resíduos agrícolas e industriais. Atendendo demanda do setor sucroenergético, a Methanum também é um exemplo bem-sucedido de parceria universidade/empresa. Já há bastante tempo, a empresa mantém parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no desenvolvimento de suas pesquisas, sendo atualmente também parceira estratégica da Comlurb (RJ) na produção de biogás a partir de resíduos sólidos urbanos.