Em meio ao surto de dengue em Mato Grosso do Sul, uma nova arbovirose, semelhante à dengue e chikungunya, tem preocupado as autoridades de saúde do Estado: a febre Oropouche. Embora não haja registros em MS, mais de 5 mil casos positivos foram identificados em todo o país e em diferentes regiões, o que acendeu o alerta.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde na última terça-feira (14) revelam que os casos de febre Oropouche estão se disseminando pelo Brasil. Dos 5.102 casos registrados, 2.947 estão no Amazonas e 1.528 em Rondônia. Mas, também houve registros ou casos em investigação na Bahia, Acre, Espírito Santo, Pará, Rio de Janeiro, Piauí, Roraima, Santa Catarina, Amapá, Maranhão e nos vizinhos Paraná e Mato Grosso.

A doença é transmitida pela picada do mosquito ‘maruim’ ou ‘mosquito-pólvora’, inseto do gênero Culicoides paraensis e C. insignis, que têm o ser humano como hospedeiro principal no ciclo urbano.

Febre Oropouche
Clico de transmissão da Febre Oropouche (Divulgação, Saúde do Viajante)

Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, destaca que, nas últimas semanas, a doença tem se espalhado rapidamente para outras regiões do Brasil.

“Introduzimos a vigilância dessa nova doença e elaboramos orientações para observação clínica, porque não tínhamos nenhum manual ou protocolo para febre Oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede de laboratórios centrais (Lacen), e, por isso, conseguimos identificar e diagnosticar corretamente essa doença”, esclarece.

Cenário epidemiológico em Mato Grosso do Sul

Questionada sobre as medidas de prevenção à febre Oropouche, a SES (Secretaria de Estado de Saúde), por meio da Gerência de Doenças Endêmicas, esclareceu ao Jornal Midiamax que o Estado está em alerta devido ao cenário da arbovirose no país.

Além disso, a pasta informou que está em fase final de elaboração da Nota Técnica orientativa sobre o agravo da doença no Estado: a princípio, como a Oropouche é uma arbovirose, as orientações seguem a mesma linha das medidas preventivas para Dengue, Chikungunya e Zika. Entre as recomendações estão:

  • Evitar áreas com alta presença de mosquitos, sempre que possível.
  • Utilizar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele.
  • Manter a limpeza da casa, eliminando possíveis criadouros de mosquitos, como recipientes com água parada, resíduos orgânicos e acúmulo de folhas.
  • Caso haja casos confirmados na região, seguir as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão, incluindo medidas específicas de controle de mosquitos.

Conforme a SES, os municípios devem estar atentos aos pacientes sintomáticos que tenham histórico de deslocamento nos últimos 15 dias para algum dos estados da região Norte do Brasil: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima ou Tocantins.

Diferença entre dengue e febre Oropouche

Apesar da similaridade, a dengue e febre Oropouche possuem formas de transmissão distintas. A transmissão da Oropouche, causada pelo Orthobunyavirus oropoucheense, ocorre pela picada do mosquito maruim e outros mosquitos amazônicos, como o Ochlerotatus.

Os principais sintomas incluem:

  • Dores de cabeça
  • Dor muscular
  • Fraqueza nas articulações
  • Náusea
  • Diarreia

Por outro lado, a dengue é causada pelo DENV (vírus da dengue), transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e pertencente à família Flaviviridae, gênero Flavivirus, com quatro sorotipos identificados.

Embora os sintomas das duas arboviroses sejam semelhantes, a febre Oropouche não evolui para quadros graves e hemorrágicos como a dengue. Sinais de alerta para a dengue incluem:

  • Dor abdominal intensa
  • Sangramento nas gengivas ou nariz
  • Hipotensão postural
  • Vômitos persistentes
  • Hepatomegalia
  • Dificuldade respiratória
  • Letargia

Estes sintomas são característicos da dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. Além disso, a dengue pode causar o aparecimento de manchas vermelhas na pele, o que não é comum na febre Oropouche. Por isso, é essencial estar ciente dessas distinções para garantir um diagnóstico e tratamento adequados.

Alerta epidemiológico em MS

Febre Oropouche
Brasil registrou 5 mil casos da doença (Flavio Carvalho, WMP Brasil-Fiocruz)

Embora não haja registro de casos positivos em Mato Grosso do Sul, em março deste ano, a SES emitiu um alerta epidemiológico para a febre Oropouche no Estado. O primeiro caso confirmado neste ano ocorreu em 29 de fevereiro no Rio de Janeiro.

O alerta considerou o elevado potencial de transmissão e disseminação da doença, que tem capacidade de causar surtos e epidemias em áreas urbanas, além da alta circulação do vírus na região Norte.

Para prevenir um possível surto da doença, a SES estabeleceu os seguintes protocolos:

  • Autoridades de saúde devem notificar todo caso com diagnóstico de infecção pelo OROV (Orthobunyavirus oropoucheense).
  • Preencher a Ficha de Notificação/Conclusão do Sinan para todos os casos confirmados, utilizando o CID A93.8 (Outras Febres Virais especificadas transmitidas por artrópodes). No campo de observação, deve-se incluir “Oropouche”.
  • Registrar todos os exames laboratoriais realizados para o OROV no Gerenciador de Ambiente Laboratorial, independentemente do resultado.

Em caso de notificação, autoridades de saúde devem identificar o local provável de infecção por meio da investigação dos casos com diagnóstico laboratorial de infecção.

De acordo com a SES, a caracterização ambiental é fundamental para avaliar o risco de transmissão em áreas urbanas. A partir da definição dos locais prováveis, a secretaria de saúde recomenda análise laboratorial das amostras com diagnóstico molecular de dengue, chikungunya e zika não detectáveis.

Notificação de casos positivos deve ocorrer em até 24h

A SES também orienta que as autoridades de saúde informem imediatamente (em até 24 horas) à vigilância epidemiológica local e estadual em caso de confirmação da arbovirose. Se a confirmação ocorrer fora do horário de expediente, recomenda-se comunicar por meio do plantão CIEVS/MS.

Além disso, todo caso deverá ser investigado, incluindo a descrição das características clínicas e epidemiológicas: evolução clínica (sintomas, recidiva, evolução do caso); exames laboratoriais complementares; histórico de deslocamentos e de exposição; e caracterização ambiental do local provável de infecção (urbano, periurbano, rural, silvestre).

Também é importante verificar a presença de animais como primatas não humanos, aves silvestres e enarthras (bichos-preguiça, tamanduás e tatus) mortos ou doentes. Caso haja identificação desses animais, os municípios precisam notificar através da Ficha de Notificação/Investigação de Epizootias (Sinan) e via Plataforma SISS-Geo, além de encaminhar amostras para a rede laboratorial de referência.