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Gaeco denuncia Cezário e mais 11 por esquema de corrupção “padrão Fifa”

Promotores quem punir presidente afastado da Federação de Futebol por 5 crimes, incluindo furto

 

Por Anahi Zurutuza | Campo Grande News

 

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Francisco Cezário de Oliveira sendo levado preso pelo Gaeco, no dia 21 de maio (Foto: Henrique Kawaminami)

Duas semanas depois do Mato Grosso do Sul assistir cena inimaginável – a prisão do lendário presidente da Federação de Futebol, Francisco Cezário de Oliveira –, chegou ao fim a investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) sobre os desvios milionários do dinheiro destinado a fomentar o esporte. Nesta quarta-feira (5), foi remetida à 6ª Vara Criminal a denúncia oferecida pelos promotores Gerson Eduardo de Araújo, Tiago Di Giulio Freire, Moisés Casarotto e Antenor Ferreira de Rezende Neto contra o decano “dono da bola” em MS e outros 11 homens apontados como integrantes do esquema.

O Gaeco quer ver Cezário punido por 5 crimes – liderar organização criminosa, peculato (desvio de dinheiro ou bem público), furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A denúncia, passo que é dado após o fim do inquérito, foi entregue à Justiça nesta terça-feira (4). Agora, é juiz quem decide se aceita ou não as acusações contra os 12 indiciados.

As 253 páginas, as quais o Campo Grande News teve acesso, trazem detalhes de como funcionava o esquema organizado por Cezário para lucrar com o dinheiro do futebol. A investigação vasculhou as informações sobre o destino do dinheiro público desembolsado para incentivar o esporte em Mato Grosso do Sul a partir do início de 2018. Equipe liderada pelos quatro promotores também “entrou em campo”, fazendo campanas e flagrantes, entrevistas e monitoramento de investigados por meio de interceptações telefônicas. Contou ainda com a quebra dos sigilos bancários dos alvos.

Mas, antes de descrever o que foi descoberto, promotores explicam porque decidiram, após décadas de impunidade, investigar a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. “Impende anotar que há tempos são veiculadas notícias de que Francisco Cezário de Oliveira integra grupo denominado de ‘Coronéis do Futebol’, que se utilizam da compra de votos para se perpetuarem na Presidência das suas respectivas federações de futebol”, destacam, trazendo uma série de outras informações, veiculadas pela imprensa ao longo de vários anos, que despertaram o interesse do Gaeco.

Os acusadores lembram dos escândalos protagonizados por quem administra os gramados mundo agora e ousam observar que os acontecimentos em Mato Grosso do Sul levam selo “padrão Fifa” de como desviar recursos que deveriam ser aplicados nos clubes e atletas.

Não devem ser esquecidos os recentes escândalos de corrupção no âmbito de federações estaduais, Confederação Brasileira de Futebol e até mesmo na Federação Internacional de Futebol, em modus operandi que, ao que tudo indica, por sua dinâmica, está sendo replicado neste Estado”, registraram Araújo, Freire, Casarotto e Rezende Neto.

No dia 21 de maio, o Gaeco levou Francisco Cezário de Oliveira para a cadeia. A casa do presidente, que depois foi afastado do cargo, foi vasculhada e no imóvel de alto padrão, localizado na Vila Taveirópolis, em Campo Grande, agentes apreenderam “bolada” em espécie – R$ 309.400,00 e 21.800,00 dólares americanos.

Em 20 meses, a investigação constatou que um grupo desviava valores, provenientes dos cofres estaduais (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da CBF, em benefício próprio e de terceiros. Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol, em valores não superiores a R$ 5 mil, para não alertar os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema.

“Já em diligências iniciais os policiais do Gaeco levantaram que Aparecido Alves Pereira (“Cido”), Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira e Umberto Alves Pereira (“Beto”), todos parentes (Umberto é pai de Marcelo e irmão de Aparecido), faziam frequentes saques em espécie de contas bancárias vinculadas à Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, em valores não superiores a R$ 5.000,00, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema, sempre com anuência de Francisco Cezário de Oliveira”, diz a denúncia.

Nessa modalidade, verificou-se que o grupo fez mais de 1,2 mil saques, que ultrapassaram o total de R$ 3 milhões. Durante vigia, Gaeco flagrou Umberto fazendo saques e depois, reuniões que para a investigam tinham como único objetivo, fazer a divisão dos valores retirados do banco.

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Imagens: Gaeco/Reprodução dos autos

A organização criminosa também contava com sistema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. O esquema de peculato tinha “cashback”, numa devolução criminosa de valores. Ao todo, os valores desviados da FFMS superaram R$ 6 milhões.

Em família – Foram denunciados quatro sobrinhos de Cezário: Umberto e Aparecido, além de Valdir Alves Pereira e Francisco Carlos Pereira, o sobrinho-neto do dirigente, Marcelo, e o irmão dele, Luiz Carlos de Oliveira.

Marco Antônio Tavares (vice-presidente da FFMS) e o filho, Marcos Paulo Abdalla Tavares, também estão na lista. Rudson Bogarim Barbosa (funcionário da FFMS), Jamiro Rodrigues de Oliveira (que foi presidente do Clube Misto de Três Lagoas) e Marco Antônio de Araújo (da Invictus Sports) completam o rol.
Vice-presidente da Federação de Futebol também está entre denunciados (Foto: FFMS/Divulgação)
Vice-presidente da Federação de Futebol também está entre denunciados (Foto: FFMS/Divulgação)

Outro lado – André Borges, o advogado de Cezário, informou por telefone que só comentará o conteúdo da denúncia depois que o cliente for notificado formalmente. A preocupação agora é com a saúde do presidente afastado da FFMS.

Depois de ter o 2º pedido de liberdade negado ontem (4) e receber a notícia da morte da irmã nesta manhã, o dirigente de 78 anos foi levado para o Hospital da Cassems por suspeita de que tenha sofrido um infarto.

Os demais citados ainda não apresentaram suas versões, a não ser Cido e Valdir, que decidiram explicar em depoimento ao Gaeco os motivos para os altos valores recebidos em suas contas bancárias advindos da Federação de Futebol. Os dois disseram que trabalham para o tio, de maneiras diferentes. Aparecido diz ser agente de jogadores, enquanto Valdir fazia as vezes de secretário pessoal de Cezário.

O espaço segue aberto para futuras manifestações. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

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