Lavouras têm pior desempenho da safrinha dos últimos anos; segundo ciclo de 2024/2025 repete o cenário enfrentado pelos produtores na safra de soja
Valéria Araújo, de Dourados/Correio do Estado
Depois de amargar uma primeira safra prejudicada, a segunda safra de milho no sul de Mato Grosso do Sul enfrenta um dos piores cenários dos últimos anos. Levantamento do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga MS) mostra que 67,9% das lavouras apresentam algum tipo de problema. Do total, 51% das áreas foram classificadas como regulares e 16,9%, como ruins. Apenas 32% das lavouras estão em boas condições.
Os dados abrangem os municípios de Itaporã, Douradina, Dourados, Deodápolis, Angélica, Ivinhema, Glória de Dourados, Fátima do Sul, Vicentina, Caarapó e Juti. Na região, foram cultivados aproximadamente 332,6 mil hectares com milho. Em Dourados, foram plantados cerca de 174 mil hectares – destes, apenas 30% são considerados com lavouras boas e 70% apresentam problemas, sendo 55% regulares e 15% ruins.
A realidade contrasta com os números observados na região nordeste de MS, que registra 98% das lavouras em boas condições e apenas 2% com problemas. Essa região, que inclui municípios como Chapadão do Sul, Costa Rica, Cassilândia e Três Lagoas, vive um cenário positivo.
Na região norte, as lavouras em boas condições representam 92% da área total, na região oeste, 97%, na região central, 77%, na região sudoeste, 85%, e na região sudeste, 88% das lavouras estão em boas condições. Já na região sul o porcentual cai para 32%, e, por fim, na região sul-fronteira, o porcentual de lavouras em boas condições é de 55%.
O pesquisador Renato Moraes, do Instituto MS Agro, analisou o panorama atual da safrinha de milho e vê uma recuperação parcial das lavouras que sofreram nas fases iniciais.
“Algumas lavouras plantadas entre janeiro e meados de fevereiro sofreram com a seca, mas as chuvas de março ajudaram na recuperação do potencial produtivo”, destacou.
Segundo Moraes, essas lavouras não devem atingir o teto de produtividade, mas, ainda assim, terão rendimentos razoáveis. “Se antes o teto era de 150 sacas por hectare, agora estamos falando de 100 sacas [por hectare], o que é uma boa média, diante das condições climáticas vividas”. Ele também alertou para o risco de geadas nas lavouras mais tardias, sem, no entanto, considerar perdas tão graves quanto as especuladas inicialmente. “Estimo, no máximo, entre 20% e 25% de perdas”.
ATRASO
De acordo com o engenheiro-agrônomo Carlos Pitol, também do Instituto MS Agro, o desempenho do milho está diretamente relacionado ao calendário da soja.
“O plantio da soja foi escalonado por conta das chuvas irregulares no início do ciclo, o que atrasou a colheita e, por consequência, empurrou o plantio do milho para além do ideal”, explicou.
Pitol observou que, mesmo diante das dificuldades, não houve incidência severa de pragas como percevejo e cigarrinha, que, historicamente, causam danos significativos. “Elas ocorreram, mas dentro de níveis aceitáveis, sem impacto grave”.
O especialista ainda ressaltou que as chuvas recentes foram bem distribuídas nas regiões centro e sul do Estado, o que deverá garantir uma recuperação das lavouras que ainda não estavam em fase crítica.
“As lavouras que não foram comprometidas no início do ciclo devem ter um bom desempenho, se o clima continuar colaborando”.
O engenheiro-agrônomo e produtor rural Angelo Ximenes destacou a redução da área plantada de milho no estado de Mato Grosso do Sul. Segundo ele, MS totalizou uma área de plantio de 1,9 milhão de hectares, representando apenas 47% da área da soja, uma redução significativa em comparação aos 75% que já chegou a ocupar.
A diminuição da área de milho, conforme o engenheiro-agrônomo, é reflexo do aumento dos custos de produção e da instabilidade climática. Angelo afirmou que, como produtor rural, procurou alternativas como o sorgo e a canola para diversificar a produção, o que contribuiu para a redução da área plantada com milho. Apesar disso, ele acredita que as chuvas recentes aumentam as expectativas para uma boa colheita.
PRODUÇÃO
Apesar das dificuldades no sul, o plantio do milho no Estado atingiu 97,4% da área estimada. A projeção é de 10,2 milhões de toneladas, número 20,6% maior que o registrado na safra anterior. A produtividade média esperada é de 80,8 sacas por hectare.
Antes do milho, a safra de soja de 2024/2025 já havia trazido um alerta vermelho na região sul, que também liderou o ranking de perdas, com apenas 18% das lavouras em boas condições, contra 41,5% regulares e 39,6% ruins – um índice que representa 535 mil hectares com algum grau de comprometimento em uma área total de cerca de 700 mil hectares plantados. Estima-se que o impacto na produtividade da soja chegue a 40% de perda.