Crescimento absoluto foi maior no Pará e no Mato Grosso. Dados fazem parte dos resultados preliminares do Censo Agro 2017, divulgado nesta quinta-feira.
Por Mariana Sallowicz e Carlos Brito, TV Globo e do G1 Rio
A área ocupada por estabelecimentos agropecuários cresceu, entre 2006 e 2017, 16,5 milhões de hectares – valor que equivale ao território do estado do Acre. Ainda assim, houve a redução de 2% no número de propriedades, que passaram de 5,17 milhões para 5,07 milhões de unidades.
Os dados fazem parte dos resultados preliminares do Censo Agro 2017, divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No ano passado, essas propriedades ocupavam 350 milhões de hectares, ou 41% da área do Brasil. Houve um aumento de 5% em relação ao Censo anterior, de 2006 (veja a evolução na tabela abaixo).
Principais pontos do Censo
- Área ocupada pela agropecuária cresceu 16,5 milhões de hectares em 11 anos (alta de 5%)
- Pará e Mato Grosso foram os estados com maiores altas
- Foi verificada maior concentração de propriedades: havia 5,07 milhões de unidades em 2017 contra 5,17 milhões em 2006 (redução de 2%)
- Caiu em 1,5 milhão o total de trabalhadores em propriedades rurais
- Número de tratores cresceu quase 50%
- Cresceu em 20,4% o total de produtores que usam agrotóxico, chegando a 1,7 milhão
- O acesso à internet no campo disparou 1.790%: passou de 75 mil para 1,4 milhão
- Cresceu o número de produtoras rurais mulheres: de 12,7% para 18,6%
Os estados que tiveram as maiores elevações de área ocupadas, em números absolutos, foram o Pará e o Mato Grosso, com mais 6,75 milhões e 6,14 milhões de hectares, respectivamente. No Pará, o crescimento ocorreu principalmente por áreas de pastagens, enquanto no Mato Grosso, pela lavoura.
Entre as regiões, apenas a Nordeste apresentou queda na área dos estabelecimentos agropecuários.
“Cinco anos de secas na região podem explicar essa queda. Houve um processo de desertificação entre a Bahia e o Rio Grande do Norte”, destacou Antonio Carlos Florido, coordenador técnico do Censo.
Prévia dos números
A divulgação final do Censo está prevista para junho de 2019. O IBGE pondera que alguns dados podem mudar. Há, ainda, 7.795 estabelecimentos nos quais os questionários ainda não haviam sido coletados.
Desses, 6.582 por recusas de informações por parte do produtor e 1.213 referentes a empresas ou grandes produtores. Outros 3 mil questionários estão passando por processo de validação.
“É uma obra em andamento que abrimos para visitação pública. Faltam acabamentos, o serviço não terminou e podem ter ‘puxadinhos'”, afirmou coordenador do Censo.
Menos trabalhadores, mais máquinas
A pesquisa revela a redução no número de trabalhadores nas propriedades, enquanto cresce o de máquinas.
“Conforme há uma mecanização dos processos, o número de pessoal ocupado vai diminuindo, assim como ocorreu em outros setores”, explica Antonio Florido, coordenador do Censo.
Em 11 anos, os ocupados nos estabelecimentos agropecuários diminuíram em 1,5 milhão de pessoas. No ano passado, eram 15 milhões de trabalhadores nessas propriedades.
Já o número de tratores cresceu 49,7% no período, totalizando 1,22 milhão de unidades em 2017. Os estados da região Norte lideraram a alta. Amapá e Roraima tiveram crescimento de 304% e 293% no número de tratores existentes nas propriedades entre 2006 e 2017.
Mais irrigação e agrotóxicos
A produção também mudou. Houve aumento de 20,4% no número de produtores que utilizaram agrotóxicos, num total de 1,68 milhão.
“O que tem que ser buscado agora é saber como esse agrotóxico está sendo utilizado. O produtor que utiliza esse material recebeu a assistência técnica necessária? De quem ele está recebendo orientação para lidar com esses produtos?”, disse Florido.
O coordenador do Censo afirmou ainda que há muitos produtores com baixa escolaridade. “Será que eles têm condições de ler e compreender as bulas e manuais de utilização dos agrotóxicos?”.
O uso de irrigação foi ampliado, com aumento de 52% tanto em estabelecimentos quanto em áreas.
Em relação ao tamanho das propriedades, aumentou a participação daqueles com 1.000 hectares ou mais. De 45% para 47,5%. Já os estabelecimentos de 100 a menos de 1.000 hectares perderam participação, passando de 33,8% para 32%.
O Censo mostra ainda que as áreas de matas naturais, que são as florestas naturais, em estabelecimentos agropecuários cresceram 11,4%.
Mais mulheres
O levantamento trouxe ainda um perfil dos trabalhadores. Cresceu o número de mulheres entre os produtores. O percentual foi de 12,7%, em 2006, para 18,6%, em 2017.
Também foi verificado o envelhecimento deles, com redução daqueles com idade até 45 anos e aumento mais significativo entre aqueles com idade a partir de 55 anos.
“Os produtores que já estavam no campo estão envelhecendo, o que é um processo natural. O que nos chama a atenção é que não há uma renovação, entende? Não estão chegando produtores mais novos, os jovens não estão indo para o campo, estão procurando emprego em outro lugar. Isso é preocupante porque, em algum momento, não vai haver mais braços. E aí, quem vai produzir o arroz e feijão que comemos?”, diz Antônio Carlos Florido, do IBGE.
O acesso à internet cresceu 1.790%. O número de produtores que declararam usar a rede passou de 75 mil, em 2006, para 1,4 milhão de produtores no ano passado.
O Censo mostra ainda que 15,5% dos produtores declararam que nunca frequentaram escola; 29,7% não passaram do nível de alfabetização, e 79,1% não foram além do nível fundamental. Além disso, 23,05% declararam não saber ler e escrever.
Apenas 0,29% dos produtores frequentaram mestrado ou doutorado. Ao todo, 5,58% cursaram ensino superior.
Menores de 14 anos
O Censo revela ainda um contingente de crianças e jovens com menos de 14 anos que trabalham no campo. São 269.786 meninos e 237.346 meninas nessa faixa etária com laço de parentesco com o produtor. Há ainda 48.054 ocupados permanentemente, 25.577 temporários e 7.042 classificados como parceiros.