Vítima foi morta pelo namorado um dia após procurar a delegacia; medida protetiva ainda não estava ativa
Por Gabi Cenciarelli | Campo Grande News
Karina e Maria Rita Corim em publicação (Foto: Redes Sociais)
“Até hoje, ninguém nos procurou”. As palavras são de Maria Rita Corim, mãe de Karina Corim, vítima do primeiro feminicídio do ano. Assassinada no primeiro dia de fevereiro em Caarapó, a 274 km de Campo Grande, ela não gerou comoção pública, tampouco institucional. Assim como Vanessa Ricarte, caso recente que ganhou outras dimensões, Karina tinha procurado a delegacia para denunciar o agressor na véspera do crime, mas a medida protetiva solicitada não chegou a tempo de evitar a tragédia aos 29 anos de vida.
Karina Corim foi vítima do primeiro feminicídio de 2023 em Caarapó, MS, após denunciar o agressor um dia antes do crime. Assim como no caso recente de Vanessa Ricarte, a medida protetiva não foi ativada a tempo. Karina foi morta pelo ex-namorado Renan Valenzuela, que cometeu suicídio após o crime. A mãe de Karina, Maria Rita, lamenta a falta de apoio das autoridades. O caso destaca falhas no sistema de proteção às mulheres no estado.
Na última semana, o caso da jornalista Vanessa Ricarte chamou atenção e provocou necessidade de mudanças no sistema de proteção às mulheres em Mato Grosso do Sul. A mobilização tomou grande amplitude desde a morte e aumentou após áudios da jornalista reclamando do atendimento que recebeu na delegacia.
O feminicídio de Karina teve contexto muito parecido, mas repercussão zero. “Minha filha também pediu ajuda um dia antes do crime, na sexta-feira (31) ela foi à delegacia, mas no sábado ainda não tinha saído a medida protetiva”, conta Maria Rita.
Na época do feminicídio, o delegado Ciro Jales, da Polícia Civil em Caarapó, falou sobre as investigações e revelou que, no boletim de ocorrência registrado por Karina, ela relatava comportamento agressivo e controlador do namorado, Renan Dantas Valenzuela, 31, que cometeu suicídio depois de matar a jovem.
Mesmo depois da repercussão do caso Vanessa, Maria Rita contou em entrevista ao Campo Grande News que nunca foi procurada por nenhuma instituição, representante do governo, da polícia, do Judiciário ou do Legislativo, “nem sequer para prestar condolências”.
Ainda com voz embargada e poucas palavras sobre a morte de Karina, Maria Rita explica que não sabe como foi o tratamento que a filha recebeu ao buscar a delegacia e que todos ainda estão muito abalados para comentar se houve erro envolvendo o caso.
Primeiro feminicídio – No dia 4 de fevereiro, morreu, no Hospital da Vida, em Dourados, Karina Corim, 29 anos, após ser baleada pelo ex-companheiro na manhã de sábado (1º). Foi o primeiro feminicídio do ano em Mato Grosso do Sul.
O caso foi ainda mais dramático, porque a amiga de Karina, Aline Rodrigues, 31 anos, também foi baleada e não resistiu.
Karina era dona de uma loja de acessórios para celular, que foi invadida por Renan. O rapaz não aceitava o fim do relacionamento de dois anos e foi armado até o estabelecimento da ex, que estava acompanhada da amiga Aline e mais uma cliente que olhava produtos expostos para venda.
As imagens das câmeras de monitoramento mostraram que ele mandou a cliente sair do local. Aline tentou sair de trás do balcão, mas foi atingida pelos tiros e caiu. Em seguida, Renan se aproximou de Karina e atirou nela de curta distância.
Depois, deixou a arma no chão, retirou frasco com combustível da mochila, jogou nas gôndolas e ateou fogo. As imagens ainda mostram o momento em que o rapaz pegou a pistola no chão e foi para o fundo da loja.
Renan foi socorrido, mas morreu ao dar entrada no hospital. Aline também foi atendida pela equipe médica, mas não resistiu aos ferimentos. Karina Corim estava em estado gravíssimo no Hospital da Vida, em Dourados, para onde foi transferida. Durante a madrugada do dia 4, faleceu.