Estadão
A
renda com trabalho informal e a obtida com pensões, aposentadorias e
outros benefícios pagos pelo governo estão ganhando peso maior no
orçamento das famílias brasileiras, enquanto a contribuição do salário
vem encolhendo. No ano passado, quase 40% dos ganhos dos domicílios
vieram da informalidade e de benefícios do governo. Em 2014, antes de o
País entrar em crise, esses rendimentos respondiam por um terço da renda
familiar.
Os números são da consultoria britânica Kantar WorldPanel, que visita
semanalmente 11 mil domicílios para radiografar o consumo no País. Uma
vez por ano, a consultoria investiga de onde vem a renda do brasileiro
para bancar despesas básicas, como alimentação, saúde, habitação e
transporte.
Apesar de a economia ter voltado a crescer em 2017, o desemprego recuou
muito pouco e continua em níveis elevados. Com isso, a participação do
salário vem diminuindo no orçamento familiar. Em 2014, respondia por 63%
da renda dos domicílios. No ano passado, a fatia recuou para 56%.
Nas regiões mais pobres, o peso dos rendimentos da informalidade e dos
benefícios já ultrapassa o do salário. No Norte e Nordeste, por exemplo,
os salários contribuíram o ano passado para 47% da receita doméstica,
enquanto bicos e benefícios somaram 49%. Os 4% restantes vieram de
outros tipos de ganhos, como doações, herança ou aluguéis. No Grande Rio
de Janeiro, região afetada pela crise fiscal do Estado, mais da metade
da renda das famílias já vem da informalidade e de benefícios pagos pelo
governo.
“Do ponto de vista da renda, o aumento da informalidade é uma notícia
ruim”, diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio
(CNC), Fabio Bentes. Como o ganho obtido com bicos é muito menor do que a
renda de salário – entre 30% e 40% -, falta dinheiro no fim do mês.
Dívida
O estudo mostra que, pelo terceiro ano seguido, o gasto médio com
despesas básicas tem superado a renda familiar em torno de 2%. No ano
passado, a renda média mensal por domicílio foi de R$ 3.173, enquanto a
despesa média mensal ficou em R$ 3.241.
Para fechar essa conta, explica Giovanna Fischer, diretora da
consultoria e responsável pela pesquisa, as famílias têm se endividado.
Recorrentes e herdadas de anos anteriores, as dívidas são um dos fatores
que têm impedido que o orçamento volte ao azul. Além disso, a lenta
recuperação do emprego formal contribui para manter essa defasagem. “Não
há nenhum indicador que mostre recuperação da renda e, até o fim do ano
passado, ela estava abaixo do gasto”, diz Giovanna. Bentes diz que a
grande oferta de mão de obra disponível deve manter a renda pressionada
para baixo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo