Luiza Possi e Ivan Teixeira — Foto: Reprodução
‘Com ele, entendi o quanto sou cantora’, disse ela sobre Ivan Teixeira
Músico de 45 anos trocou a publicidade pelo piano: ‘Ele estava apaixonado e cheio de planos’
Luiz Possi perdeu o seu “homem-banda” — jeito carinhoso com o qual ela se referia a Ivan Teixeira, pianista que lhe acompanhava há 19 anos. Ivan e sua namorada, Ariane Ross, morreram em um acidente na manhã deste domingo (24), na BR-267, em Nova Casa Verde, distrito de Nova Andradina (MS), a 295 km de Campo Grande (MS). De acordo com o Corpo de Bombeiros em informação publicada pelo g1, Ariane estava ao volante, com Ivan no banco do passageiro. Ela teria perdido o controle do veículo e batido em um coqueiro.
Segundo Luiza, Ivan era um homem brincalhão, talentoso e criativo. Ela conta que ele era publicitário — “dos bons” —, mas largou o ramo para viver da música. Chegou a ser “abandonado pela noiva” por conta da escolha, lembra a cantora. Ao GLOBO, ainda com a voz embargada pela perda, Luiza lembra histórias de Ivan Teixeira, de 45 anos, que deixa duas filhas.
Pode falar um pouco sobre a personalidade do Ivan? Como ele era no dia a dia, na estrada, no palco, no estúdio… Como era conviver com ele?
O Ivan era a alma da minha banda, a alma da minha equipe. Era a pessoa mais extrovertida, mais animada, mais engraçada. A gente, há 20 anos atrás, antes de falar que não podia, nós éramos “the bullying boys”, depois a gente viramos os “Luizapossers”. Era risada atrás de risada, gargalhadas. Ele era provocativo, um talento enorme, inegável. O Ivan inspirava muita gente. Fez muitas pessoas acreditarem em seu próprio talento e investirem na carreira musical. Porque com ele aconteceu da mesma forma. O Ivan era publicitário, dos bons, e virou pianista. Ele chegou a ser abandonado pela noiva porque quis virar pianista. E ele seguiu nessa carreira. A gente se encontrou em 2005 num musical, “Romeu e Julieta”. Acabei que não fiz o musical, mas levei ele comigo. Pensei: ‘esse menino é muito bom’. E desde então ele está comigo. Desenvolvemos o show “Piano e voz”, fizemos várias turnês. Levei o Ivan pra Tóquio, várias cidades no Japão, Portugal, milhares de cidades no Brasil. Só esse ano a gente fez uns 40 ou 50 shows dessa turnê. E eu não substituía o Ivan, se ele não pudesse fazer por algum motivo, não tinha show. Porque ele não tinha substituição. Ele sabia a hora que eu ia cantar, eu sabia a hora que ele ia tocar, se a gente se perdesse a gente ia se encontrar e ia dar certo. Ele me admirava e eu admirava ele. Vi ele crescer, ter filhos, ele me viu ser mãe. Ele se separou da esposa com quem ficou por 17 anos, e se apaixonou pela Liane com quem veio a falecer. Ele estava apaixonado e cheio de planos. A gente tinha um plano de fazer 110 shows no ano que vem. A dor que eu estou sentindo só se compara a dor de quando perdi meu pai.
Você disse que a relação entre vocês ultrapassou a profissão e que ele era seu amigo pessoal. Pode lembrar de algum momento bacana que vocês viveram juntos?
Quando ele tocava, e a gente tinha esse nosso show, eu entendi o quanto sou cantora, o quanto minha voz ecoava, o quanto podia preencher um teatro , um estádio, acompanhada de piano tocado com classe e talento. O Ivan foi muito importante pro meu crescimento profissional e pessoal. Passamos por bons e maus bocados. Fases difíceis. Nenhuma carreira longeva é linear, mas passamos juntos mais altos do que baixos. Era momento de celebração para ambos. Esse ano de 2023 teria sido o melhor ano da minha vida, não fosse a precoce morte do Ivan.
Existe algum trabalho que vocês fizeram juntos e que ainda não foi lançado? Vocês tinham algum plano ou projeto profissional à vista?
Sim. Existe um trabalho que a gente fez, que é um show de piano e voz, um dos melhores que a gente fez, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Pretendo rever esse material e com certeza lançar. O Ivan, além de tudo, foi responsável pela minha entrada no meu casamento, ele fez os arranjos e regeu a orquestra que tocou no meu casamento. No último show de piano e voz que fizemos, chamamos o Renato de Sá, chellista que tocou no meu casamento, e fizemos um trio. Foi um show lindíssimo, de duas sessões abarrotadas. Nós nos provocávamos no palco, tínhamos relação de extrema amizade, cumplicidade e companheirismo.
De que maneira o Ivan contribuiu pro seu crescimento como artista e cantora?
O Ivan era uma banda toda. Eu falava qu ele era o meu homem banda. Só ele preenchia o lugar inteiro com risadas, gargalhadas, provocações, talento, musicalidade, sensibilidade. Quantos shows fizemos acompanhando Alcione, Daniela Mercury…. O Ivan era maestro do show “Zizi e Luiza”. Fez arranjos, era responsável. Minha mãe também está sentindo muito. Vim passar o natal com ela. Fatalmente, foi um dos natais mais tristes da minha vida. E ao mesmo tempo, mais felizes, por ter meu tio, minha mãe, meus dois filhos, meu marido perto de mim. Eu sei que isso é coisa rara.