Em 2024, o cenário chega a um ponto jamais visto, com redução extrema das chuvas e aumento expressivo das temperaturas
Estiagem e incêndios florestais sempre fizeram parte da vida no Pantanal, mas as mudanças climáticas reduziram em 125 anos a ocorrência de eventos extremos. Artigo científico publicado recentemente no site World Weather Attribution revela ainda que as mudanças climáticas tornaram os incêndios 40% mais intensos no Pantanal.
A elaboração do artigo contou com pesquisadores brasileiros, holandeses, suecos e do Reino Unido. O texto aborda como as condições climáticas têm propiciado um aumento da quantidade e intensidade dos incêndios florestais no Pantanal, como vivenciamos em 2024. Desde junho, Mato Grosso do Sul atinge recordes em número de focos de queimadas.
O artigo confirma que os eventos extremos tinham chance de ocorrer uma vez a cada 160 anos, mas as mudanças climáticas, fizeram a probabilidade desses eventos acontecerem cair de 160 anos para 35 anos. Além disso, tornaram 40% mais intensas as condições para que esses incêndios ocorram no Pantanal.
“Sem essas mudanças climáticas, eventos como esse, que a gente tem observado desde junho, aconteceriam um e a cada 160 anos. O aquecimento global fez com que as temperaturas aumentassem, refletindo na quantidade de chuvas que a gente observa no gráfico essa diminuição das chuvas”, explica o pesquisador da UFMS e analista ambiental do Ibama/Prevfogo, Alexandre Pereira.
Gráfico mostra aumento das temperaturas e redução das chuvas
Gráfico que integra o artigo mostra as mudanças das condições climáticas ao longo dos anos. Entre 1979 e 1999, havia mais chuvas e as temperaturas eram mais amenas do que atualmente.
Ao longo dos anos, as temperaturas foram ficando mais altas e as chuvas mais escassas. Em 2024, o cenário chega a um ponto jamais visto, com redução extrema das chuvas e aumento expressivo das temperaturas.
“A gente vê claramente nesse gráfico que tem avançado nesses anos para menos chuvas e maiores temperaturas. A gente teve muito pouca chuva e temperaturas bastante elevadas. E isso faz com que a gente tenha essas condições propícias aí para o fogo, para o avanço da quantidade e da intensidade desses incêndios florestais”, explica o pesquisador da UFMS e analista ambiental do Ibama/Prevfogo, Alexandre Pereira.
Ainda de acordo com ele, o Pantanal tem passado ao longo do tempo por uma diminuição da quantidade de chuvas e do aumento da temperatura. “Isso é reflexo de acordo com esses autores das mudanças climáticas que não só o Pantanal, mas como todo o planeta está sofrendo e o Pantanal não foge disso”, diz.
Seca histórica no Pantanal
Desde o início do ano, pesquisadores alertam para a possibilidade de uma seca histórica na bacia do Rio Paraguai. Com o passar dos meses, a perspectiva vai se confirmando como, até o momento, a terceira pior da história.
“Esse ano não é o mais seco dentro dessa série histórica, mas está entre os mais secos”, afirma o pesquisador. A referência é o pico máximo do Rio Paraguai ao longo do ano, medido pela Marinha na régua de Ladário. Esse ano, o pico que o Rio Paraguai chegou em Ladário foi de 1,47m.
Temos mínimas registradas um pouco mais baixas, como em 1964, com 1,30m, e outra em 1971, com 1,10m, que foram os anos mais secos que o Pantanal já teve dentro dessa série histórica que começou em 1900.
“Dentro dessa série histórica, 1964 e 1971 foram os anos mais secos, e 2024 está sendo o terceiro ano mais seco desde 1900”, afirma.