Segundo a decisão, prefeito foi eleito sendo beneficiado por abuso de poder durante a campanha (foto: arquivo/Vale do Ivinhema Agora)
Prefeito eleito, vice-prefeito, apoiadores e donos de veículo de mídia da cidade são investigados por uso indevido dos meios de comunicação e ataques orquestrados contra a adversária durante a campanha
A Justiça Eleitoral de Nova Andradina (MS) determinou a cassação dos diplomas do prefeito Leandro Fedossi e de seu vice, Arion Aislan, em sentença publicada nesta terça-feira (7). Ambos também foram declarados inelegíveis por oito anos, ao lado de outros seis nomes, dentre apoiadores e donos de veículo de imprensa da cidade.
Murilo César Carneiro da Silva, Sandro de Almeida Araújo, Jeferson Souza dos Santos, Hernandes Ortiz, Hernandes Ortiz Júnior e Bruno Henrique Seleguim também foram denunciados pelo Ministério Público Eleitoral MPE.
A juíza Cristiane Aparecida Biberg de Oliveira acatou, em parte, os pedidos do MPE que denunciaram um possível esquema coordenado de abuso de poder político e econômico, aliado ao uso indevido dos meios de comunicação social para beneficiar a chapa eleita em 2024.
A decisão aponta que houve desequilíbrio no processo eleitoral e abre caminho para a convocação de novas eleições no município, caso haja trânsito em julgado.
O prefeito cassado teria sido beneficiado diretamente por um núcleo responsável por ataques sistemáticos à adversária, Dione Hashioka. Segundo o processo, ele não apenas sabia, como incentivava e valorizava a atuação desse grupo, chegando a se referir a Murilo César Carneiro da Silva, o “Pagodinho”, como o “camisa 10” da campanha.
Murilo foi apontado como um dos principais operadores da rede de desinformação, atuando por meio da página Nova Fogo, de sua titularidade. Segundo o MPE, ele produziu e disseminou conteúdos manipulados, com linguagem agressiva, promovendo ataques misóginos e violência política de gênero. Quatro dias antes da eleição, teve equipamentos apreendidos em sua casa pelo Gaeco.
Comunicação paralela e contratos públicos
Bruno Henrique Seleguim, responsável por parte das artes gráficas utilizadas na campanha, atuava de forma articulada com Murilo, ciente de que seu material seria usado para ataques. Atualmente, Bruno ocupa um cargo comissionado na COGECOM da Prefeitura, com salário superior a R$ 8.000,00.
De acordo com a sentença, Sandro de Almeida Araújo e Jeferson Souza dos Santos impulsionaram publicações ofensivas e fortaleceram a estratégia de desinformação. No caso de Jeferson, segundo o Diário Oficial do Município, datado de 9 de janeiro de 2025, ele teve aditivado um contrato de prestação de serviços no valor de R$ 138 mil, para a produção de conteúdo audiovisual para a Prefeitura. Já em relação ao Jornal da Nova, também teria deixado de dar à candidata Dione o mesmo espaço e tratamento concedido a Leandro, violando o princípio da isonomia e contribuindo para a manipulação da opinião pública.
O aval do atual secretário
O atual secretário de Gestão e Finanças do município, Hernandes Ortiz, também está entre os responsabilizados na denúncia por ter incentivado e legitimado as ações ilegais de Murilo, tendo pleno conhecimento da estratégia de desconstrução da imagem da adversária. Em mais de uma ocasião, foi obrigado pela Justiça Eleitoral a apagar publicações falsas. Seu filho, Hernandes Ortiz Júnior, figura na mesma lista.
Estratégia coordenada
A sentença descreve que não se trata de atos isolados, mas de utilização “sistemática, deliberada e coordenada”, como versa a decisão, que menciona ainda o “propósito de comprometer a normalidade e a legitimidade do pleito eleitoral”.
O processo segue agora para julgamento no Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS). Em caso de confirmação da decisão, o município de Nova Andradina terá novas eleições para prefeito e vice-prefeito.