Foi o resultado negativo mais intenso da série histórica, iniciada em janeiro de 2011, fortemente influenciado pela paralisação que durou 11 dias.
Por Daniel Silveira e Marta Cavallini, G1
O setor de serviços no Brasil recuou 3,8% em maio na comparação com abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o resultado negativo mais intenso da série histórica, iniciada em janeiro de 2011, fortemente influenciado pela greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias no final de maio.
O setor de serviços representa 70% da composição do PIB. A queda de maio é a segunda no ano.
Em relação a maio de 2017, o volume de serviços recuou 3,8%, maior queda desde abril de 2017 (-5,7%). Foi a maior queda do ano na comparação com os outros meses – a maior até então havia sido em fevereiro, com queda de 2,3%. Em abril, havia sido registrado crescimento de 2% em relação ao mesmo mês de 2017.
A queda no acumulado do ano até maio foi de -1,3%. Trata-se do recuo mais intenso do que os quatro primeiros meses de 2018 (-0,7%). E é o quarto resultado negativo consecutivo no acumulado de janeiro e maio, mas o menor em relação aos anos anteriores de 2015 (-3,6%), 2016 (-5%) e 2017 (-2,8%).
Já o acumulado nos últimos 12 meses teve recuo de 1,6%, contra queda de 1,4% em abril, interrompendo uma trajetória ascendente iniciada em abril de 2017 (-5,1%).
O IBGE revisou ainda os dados do setor de serviços de abril. O avanço naquele mês foi de 1,1%, ao contrário do 1% divulgado anteriormente.
Setor de serviços em maio:
- Taxa no mês: – 3,8%
- Acumulado do ano: -1,3%
- Acumulado em 12 meses: -1,6%
- Em relação a maio de 2017: -3,8%
“O que mais puxou essa queda foram as atividades de transporte terrestre e de armazenagem e serviços auxiliares aos transportes”, afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Curiosamente, no indicador de abril o desempenho positivo havia sido puxado pelos serviços de transporte terrestres. Essa atividade responde pelo maior peso do setor de serviços, segundo o IBGE.
O gerente da pesquisa lembrou que em abril o setor de serviços havia registrado a primeira taxa positiva do ano (1,1%), sinalizando uma possível recuperação do setor. Na comparação com o mesmo mês de 2017, abril também havia registrado o primeiro crescimento de 2018 (2%).
“De fato, a greve dos caminhoneiros interrompe qualquer tipo de sinal de recuperação que poderia estar acontecendo até abril e a gente não sabe ainda quais são os desdobramentos que podem ocorrer para o mês de junho e se o setor vai ter uma resposta rápida”, disse.
O resultado de maio deixou o patamar do volume de serviços 15,4% abaixo do ponto mais alto, registrado em novembro de 2014. Antes, o ponto mais distante do pico havia sido observado em março de 2017, quando ficou 13,9% abaixo.
Queda em todas as atividades
Houve recuo nas cinco atividades investigadas, com destaque para transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que apontou a retração mais intensa (-9,5%) da série histórica iniciada em janeiro de 2011.
Dentro dessa atividade, o setor de transportes terrestres tiveram queda de 15%, e armazenagem e serviços auxiliares recuaram 6,2% – foram as quedas mais intensas da série histórica da pesquisa.
A maior queda nos transportes terrestres registrada anteriormente foi de -4,1%, em dezembro de 2014.
Os transportes terrestres ficaram 30,8% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em janeiro de 2014. Antes, a maior distância havia sido em outubro de 2017 – 17% abaixo do pico.
De acordo com o IBGE, a atividade de transporte terrestre é dividida em 10 categorias, sendo três delas relativas ao transporte de cargas que, somadas, respondem por 70% de todo o transporte terrestre – ramo que responde por cerca de 10% do volume total de serviços do país.
O pesquisador enfatizou que todos os segmentos de serviços mostraram taxas negativas tanto na comparação com o mês anterior quanto na comparação com o mesmo mês do ano passado. Mas ponderou que a queda disseminada não é novidade. “Essa é a sexta vez que isso acontece”, ressalta.
Desempenho por atividades em relação a abril:
- Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: -9,5%
- Outros serviços: -2,7%
- Serviços profissionais, administrativos e complementares: -1,3%
- Serviços de informação e comunicação: -0,4%
- Serviços prestados às famílias: -0,3%
Desempenho por subcategorias em relação a abril:
- Transporte terrestre: -15%
- Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: -6,2%
- Serviços de tecnologia da informação: -2%
- Transporte aéreo: -1,8%
- Serviços audiovisuais: -1,8%
- Serviços administrativos e complementares: -1,5%
- Serviços de alojamento e alimentação: -0,8%
- Serviços técnico-profissionais: -0,3%
- Serviços de tecnologia da informação e comunicação: -0,3%
- Telecomunicações: 0,6%
- Transporte aquaviário: 0,4%
- Outros serviços prestados às famílias: 0,2%
Turismo afetado pela greve
Depois de duas taxas positivas consecutivas, acumulando alta de 6,6%, os serviços ligados ao turismo recuaram 2,4% na comparação com abril. Segundo Lobo, essa queda também foi influenciada pela greve dos caminhoneiros. Das 12 unidades da Federação investigadas, nove registraram queda.
Das 22 atividades que compõem o turismo, o principal impacto negativo veio de restaurantes, cujo funcionamento foi prejudicado pelo desabastecimento de produtos in natura.
Já na comparação com maio do ano passado, os serviços ligados ao turismo tiveram alta de 1,9%, puxado pelos serviços hoteleiros e passagens aéreas. O avanço foi observado em nove das 12 unidades da Federação investigadas.
Resultados por região
Regionalmente, 23 das 27 unidades da Federação tiveram retração no volume dos serviços em maio em relação a abril, sendo que seis apresentaram as taxas negativas mais intensas da série histórica: Tocantins (-20,2%), Espírito Santo (-11,3%), Paraná (-8,6%), Goiás (-5,6%), Rio Grande do Sul (-5,4%) e Minas Gerais (-5%).
Outros destaques foram São Paulo (-2,7%), que teve a queda mais intensa desde março de 2017 (-4,7%), e Rio de Janeiro (-1,7%). Já a principal contribuição positiva foi do Distrito Federal (1,4%), com a terceira alta seguida.
Em relação a maio de 2017, a retração do volume de serviços foi em 25 das 27 unidades da Federação, com São Paulo (-1,9%), Paraná (-11,6%) e Minas Gerais (-6,7%) como destaques negativos. Outras contribuições negativas importantes vieram do Rio Grande do Sul (-7,2%), Bahia (-9,8%) e Ceará (-12,6%). Já o avanço regional mais importante veio do Distrito Federal (4,8%).