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Dono do Shopping China e família da fronteira financiaram fuga de doleiro

Felipe Corgono e quatro membros da família Mota tiveram prisão decretada em nova fase da Operação Lava Jato

Por: campograndenews

Viaturas da Polícia Federal em frente à mansão da família Mota, em Ponta Porã, hoje de manhã (Foto: Direto das Ruas)
Viaturas da Polícia Federal em frente à mansão da família Mota, em Ponta Porã, hoje de manhã (Foto: Direto das Ruas)

Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”, que ajudou a lavar dinheiro de traficantes, políticos corruptos, empresários e até de jogadores de futebol, recebia apoio e dinheiro de empresários da fronteira com Mato Grosso do Sul para ficar foragido tanto da Justiça brasileira quanto das autoridades paraguaias.

Antes de ser preso em julho deste ano em São Paulo, Messer passou um tempo em propriedades na região de Salto Del Guairá, perto de Mundo Novo, e em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, cidades-gêmeas da Linha Internacional que separa o Brasil do Paraguai.

Investigação da Polícia Federal e do MPF (Ministério Público Federal) que levou aos 20 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão cumpridos hoje (19) na Operação Patrón – nova fase da Laja Jato – traz detalhes da participação do megaempresário Felipe Cogorno Alvarez, dono do Shopping China, e da família Mota na estrutura criminosa de Dario Messer.

Frequentadores da alta sociedade pontaporanense e membros de família tradicional na fronteira, Antonio Joaquim Mota, o “Tonho”, a mulher, o filho e o enteado estão entre as pessoas com as prisões decretadas, assim com o Felipe Cogorno. A filha de Antonio também é citada nas investigações, mas a PF não pediu a prisão dela.

O empresário Felipe Cogorno Álvarez teve prisão decretada pelo juiz da Lava Jato no Rio (Foto: Divulgação)

O empresário Felipe Cogorno Álvarez teve prisão decretada pelo juiz da Lava Jato no Rio (Foto: Divulgação)

Felipe Cogorno – Empresário ítalo-paraguaio, Felipe Cogorno Álvarez é diretor do Grupo Cogorno, administrador do Shopping Chin e representante da Câmara de Comércio de Amambay. Segundo a investigação, Cogorno visita regularmente em São Paulo outro doleiro do esquema, Najun Turner, que está foragido e também teve a prisão decretada na Operação Patrón.

Conversa interceptada pela Polícia Federal em janeiro deste ano mostra Najun Turner a Dario Messer falando sobre ajuda que pediriam a Cogorno para ocultar 500 mil dólares, que seriam entregues pela noiva de Dario, Myra De Oliveira Athayde, em um escritório em Asunción, no Paraguai.

Além de detalhes para ocultação do dinheiro em casas de câmbio do Paraguai por sugestão do empresário da fronteira, a PF identificou esquema de contrabando de pneus envolvendo o doleiro e Felipe Cogorno, segundo a denúncia do MPF.

Família Motta – A ligação de Dario Messer com a família Mota, de Ponta Porã, é ainda mais estreita, conforme a investigação. Fazendeiro brasiguaio, Antonio Joaquim da Mota, o “Tonho”, tem residência em Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, e é sócio dos Frigoríficos Frigoforte em Ponta Porã e Silverbeef no Paraná.

Mota aparece nas conversas de mensagem nos smartphones apreendidos de Dario Messer como Tonho, responsável por entregar mensalmente 10 mil dólares para Myra Athayde, a namorada do doleiro.

“As conversas indicam que Antonio Mota ocultava US$ 232 mil de Dario Messer, com o compromisso de mensalmente entregar US$ 10 mil a Myra Athayde. Nas mensagens, Dario contabiliza os pagamentos de despesas suas e de Myra Athayde, restando em 03/07/2019 o montante de US$ 192.800”, diz a denúncia. Messer foi preso dias depois.

Conforme a investigação, os diálogos mostram que pelo menos parte do dinheiro repassado por Tonho no interesse de Dario Messer era por intermédio de José Fermin Valdez Gonzalez, dono da FE Câmbio, no Paraguai.

Antonio Mota, o Tonho, é casado com Cecy Mendes Gonçalves da Mota. O casal é pai de Cecy Mendes Gonçalves da Mota (homônima de sua mãe), conhecida como Cecyzinha. O enteado de Tonho e filho de Cecy, Orlando Mendes Gonçalves Stedile, teve a prisão temporária decretada e foi detido hoje no Rio de Janeiro.

“Cecy, Cecyzinha e Orlando se encontraram com Myra em viagens recentes a Nova York e Bariloche, sendo esta última objeto de vigilância por parte da polícia nacional argentina”, afirma trecho da investigação.

A PF e o Ministério Público Federal citam nas investigações Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, filho de Tonho – também com prisão temporária decretada na Operação Patrón. Ele é dono da transportadora Mota, que funciona em Ponta Porã ao lado da Casa de Carne Novilho de Ouro, pertencente à irmã, Cecyzinha.

Foto encontrada pela Polícia Federal nos arquivos “na nuvem” de Myra Athayde, com data de 10 de setembro de 2018, mostra Dario Messer usando boné de propaganda da Casa de Carne Novilho De Ouro.

Wi-fi – A Polícia Federal encontrou em dos nos celulares de Dario Messer registros de fotografias e acessos à rede Wi-fi da Família Mota de maio a setembro de 2018, “evidenciando que essa família abrigou Dario Messer em um de seus imóveis, local em que Myra Athayde ia encontrá-lo”.

No mesmo celular, segundo o MPF, foi identificado o acesso de Dario à rede Wi-fi Mota nos períodos de 30/05/2018 a 30/06/2018 e nos dias 02, 03 e 29 de julho de 2018. Já Myra Athayde, a namorada do doleiro, acessou à rede Wifi Mota nos dias 18 de julho de 2018 e de 4 a 8 de agosto de 2018.

Documento falso e tráfico – Segundo as investigações, as conversas também revelaram que o Antônio Mota, o filho, está relacionado ao documento de identidade falso utilizado pelo doleiro, em nome de Marcelo de Freitas Batalha.

Relatórios de inteligência financeira do antigo Coaf produzidos com autorização judicial apontam relações financeiras entre os integrantes da Família Mota e pessoas ligadas ao tráfico de drogas e ao contrabando.

Há citações também aos laços de amizades e de negócios entre os Mota e outros acusados de narcotráfico na fronteira, principalmente Jorge Rafaat Toumani, o “chefão” do crime organizado na Linha Internacional, executado em junho de 2016.

O Campo Grande News apurou que Rafaat era padrinho de Antônio Mota, o filho, ou seja, compadre do casal Tonho e Cecy. Na campanha de Horacio Cartes à presidência do Paraguai, Rafaat e Tonho bancaram uma festa para três mil pessoas para receber o então candidato em Pedro Juan Caballero.

Dario Messer tira selfie com pistola na mão (Foto: Reprodução)
Dario Messer tira selfie com pistola na mão (Foto: Reprodução)

Tráfico de armas – A Operação Patrón também liga a Família Mota ao tráfico de armas. Nos arquivos de imagens de Orlando Stedile, a PF encontrou diversas fotos com manuseio de armas de fogo, “mesmo não tendo o investigado autorização de porte”.

Ainda mais grave, segundo a PF, são contatos dos irmãos Orlando Stedile e Antonio Mendes Mota com “Ricardo CTBA”, identificado como Ricardo Mauricio Barroso Branco, para encomendar dois fuzis G36 (de fabricação alemã, calibre 5.56), “o que demonstra a periculosidade da Familia Mota”, afirma o MPF no documento em que respaldou o pedido de prisão da quadrilha.

Sócios criminosos – Outro que teve a prisão preventiva decretada por proteger Dario Messer é Roque Fabiano Silveira, empresário de Salto Del Guairá, outra cidade paraguaia vizinha de Mato Grosso do Sul.

Em maio de 2018, logo após ter a prisão decretada no âmbito da Operação Câmbio, Desligo, Dario Messer se refugiou em fazendas de Roque Silveira. Ficou um tempo por lá, até se mudar para propriedades da Família Mota em Pedro Juan Caballero.

“Roque Silveira está associado a crimes de contrabando de cigarros paraguaios e dois homicídios no Brasil – de um empresário em 1996 e de um servidor da Receita Federal em 2006 – havendo informações que ele tenha se refugiado em Salto Del Guairá para não ser preso. No Paraguai, fez fortuna com fabricação de cigarros que são contrabandeados para nosso país”, afirma o MPF.

Segundo a investigação, Roque Silveira deu proteção e esconderijo a Dario Messer, além de ter sido o elo de contato com o então presidente do Paraguai Horacio Cartes. Silveira também ficou responsável por receber e ocultar os 500 mil dólares pedidos pelo doleiro em carta enviada a Horacio Cartes.

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