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Manga, herói do Operário em 77, vira morador do Retiro dos Artistas

Por: campograndenews

 


O ex-goleiro Manga, primeiro da esquerda para a direita, em pé, com o fantástico time do Operário no primeiro jogo da semifinal do Brasileiro de 77, contra o São Paulo, no Estádio do Morumbi (Foto: Divulgação)

 

Estrela maior da histórica campanha do 3º lugar do Operário de Campo Grande no Campeonato Brasileiro de 1977, Haílton Corrêa de Arruda, o ex-goleiro Manga, de 83 anos, agora é morador do Retiro dos Artistas, uma instituição localizada no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, fundada em 1918 para acolher artistas idosos em dificuldades financeiras ou emocionais.

Manga vivia em Quito, no Equador, com sua mulher, Maria Cecília, desde que encerrou a carreira de jogador, aos 45 anos, no início da década de 1980. Na última terça-feira, 26, ele passou a morar no Retiro dos Artistas. “O Manga é a primeira personalidade fora do meio artístico que recebemos. Ele estava passando por uma situação muito difícil com a mulher no Equador, antes de chegar até a gente”, disse a administradora do lar de idosos, Cida Cabral, em entrevista para o UOL.

Manguinha, como o próprio Manga o chama na terceira pessoa, estará eternamente na memória de todos os sul-mato-grossenses, torcedores ou não de futebol, que acompanharam a sua passagem pelo Operário no final da década de 1970.

Apesar do pouco tempo que ficou no clube campo-grandense, Manga deixou sua marca de vencedor com defesas espetaculares que levaram o time operariano até a fase semifinal do Brasileiro, que naquele ano teve o São Paulo, campeão, o Atlético Mineiro, vice, e o Londrina foi o quarto colocado. Nos dois jogos contra o São Paulo, perdeu no Morumbi por 3 a 0 e venceu no Estádio do Morenão por 1 a 0.

Goleiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, Manga também foi ídolo de grandes clubes do Brasil, como Botafogo, Internacional e Grêmio, e do Nacional do Uruguai. Quando chegou em Campo Grande, ele trazia no currículo os títulos de campeão da Taça Brasil de 1968, do Torneio Rio-São Paulo de 1962, 1964 e 1966, do Campeonato Carioca de 1961, 1962, 1967 e 1968, todos pelo Botafogo; da Taça Libertadores e do Mundial Interclubes de 1971 pelo Nacional do Uruguai, do Campeonato Brasileiro de 1975 e 1976 e do Campeonato Gaúcho de 1974, 1975 e 1976 pelo Internacional de Porto Alegre.

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Mãos deformadas pela profissão, Manga chegou para o Operário já aos 40 anos e conduziu o time para a semifinal do Brasileiro de 77 (Foto: Reprodução)

Saiba como Manga veio parar no Operário – Ano de 1977, o futebol profissional em Mato Grosso do Sul estava só começando a sua história. Tinha o Estádio Morenão, em Campo Grande, inaugurado seis anos antes, como motivo de orgulho e uma espécie de ponto de encontro da população em dias de jogos de Operário e Comercial, fosse do Campeonato Estadual ou do Campeonato Brasileiro. Nem importava se quarta-feira, sábado ou domingo, qualquer jogo era sinônimo de casa cheia.

E foi nesse clima de euforia que a diretoria do Operário teve a ousadia de contratar um jogador consagrado no futebol mundial. Trouxe o goleiro Manga, um vencedor em todos os clubes onde havia jogado e que estava no Internacional de Porto Alegre.

Aquela era uma época em que não havia patrocínios de empresas privadas no futebol, nem mesmo nos grandes clubes de São Paulo e Rio, muito menos por essas bandas do Brasil, e a palavra “estratégia de marketing” não fazia parte do nosso vocabulário. Sem nenhuma dessas ferramentas de negociação dos tempos atuais, a diretoria do clube fez valer algo que hoje não existe mais na relação entre torcedor e dirigente de futebol: credibilidade.

Para ter o goleiro Manga, então com 40 anos de idade, mas ainda em excelente forma, o Operário lançou uma campanha junto aos seus torcedores para arrecadar dinheiro vivo e viabilizar o investimento, ou seja, literalmente passou a “sacolinha”.

Foram espalhadas várias urnas pela cidade e os torcedores fizeram questão da campanha de arrecadação de dinheiro para trazer o Manga, como se não bastasse o apoio nas arquibancadas. Centenas, milhares de operarianos formavam filas diante das urnas para contribuir.

Muitos vibravam como se aquele ato fosse um gol do time do coração. Na sede do clube, na Avenida Bandeirantes, e na Rua Barão do Rio Branco, entre 14 de Julho e 13 de Maio, no centro da cidade, longas filas se formaram para as contribuições.

A campanha foi um sucesso, o clube arrecadou o dinheiro que precisava, algo em torno de 150 mil cruzeiros (moeda da época), e o goleiro Manga trocou Porto Alegre e o Internacional por Campo Grande e o Operário Futebol Clube. Sua chegada no aeroporto se transformou em um grande acontecimento. Desembarcou quando passava das 4h da tarde, mas desde o final da manhã os torcedores já se aglomeravam no saguão a espera do ídolo.

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Manguinha, o eterno ídolo do Operário (Foto: Reprodução)

A estreia diante do Felipão – Manga era um goleiro eficiente, reconhecidamente talentoso, e tinha a fama de predestinado a ser campeão. O Operário tinha no comando o saudoso treinador Carlos Castilho, um ex-goleiro titular da Seleção Brasileira na Copa de 1954, na Suíça, e reserva imediato de Gilmar nas Copas de 1958, na Suécia, e 1962, no Chile, que entrou para a história como um goleiro de defesas quase impossíveis. Com Manga, estava formada uma dupla perfeita: um goleiro que beirava a perfeição, em campo, e um ex-goleiro quase perfeito, no banco.

Sua estreia no Operário foi diante do Caxias, em Caxias do Sul, pelo Campeonato Brasileiro, dia 23 de novembro de 1977. Levou três gols no empate por 3 a 3, mas não ficou dúvida sobre a importância do seu talento, experiência e prestígio para a equipe campo-grandense.

O empate em Caxias, sob névoa e temperatura abaixo de zero, deu confiança e personalidade ao time. Naquele jogo, além da boa estreia do goleiro Manga, também ficou marcado o fato de o locutor da TV Morena, o saudoso Robson Torres, chamar um dos zagueiros do Caxias pelo seu nome completo durante a transmissão. Era Luiz Felipe Scolari, o Felipão.

Manga sofreu seis gols nos seus dois primeiros jogos no Operário. Quatro dias depois de enfrentar o Caxias, encarou o Grêmio no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, e o placar foi o mesmo de Caxias do Sul: 3 a 3. No total, ele levou 13 gols em 13 dos 20 jogos que disputou em uma campanha histórica e emocionante de um time do interior do Brasil, que chegou até a fase semifinal do Campeonato Brasileiro e ficou em terceiro lugar, atrás apenas do São Paulo, campeão, e do Atlético Mineiro, vice. Foram 10 vitórias, seis empates e quatro derrotas, 28 gols marcados e 15 sofridos.

Quando deixou o Operário de Campo Grande, Manga assinou contrato com o Coritiba, onde conquistou o título paranaense de 1978, voltou ao futebol gaúcho para ser campeão estadual com o Grêmio em 1979 e depois deixou o Brasil para ser campeão equatoriano de 1981 pelo Barcelona de Guayaquil.

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